Os mistérios do Tarot de Marselha» de Philippe Truffault et Christophe Poncet (2014)










O filme explora a história secreta dessas cartas na Florença dos Médici demonstrando como esse jogo nada tem a ver com as suas supostas virtudes premonitórias mas corresponde à síntese do pensamento filosófico de Marsílio Ficino, um filósofo florentino que viveu entre 1433 e 1499 e foi um dos grandes mestres da primeira Renascença italiana.
Nessa época os filósofos e os artistas descobriram os textos dos filósofos da Antiguidade grega com cuja inspiração Come de Médicis fundou a sua Academia neoplatônica. O para a dirigir foi Marsílio Ficino, um filósofo entusiasmado com a astrologia e com as obras de Platão que se empenhara em traduzir.
Filho de um reputado médico da cidade, Marsílio propôs-se a criar uma síntese entre o cristianismo e as teologias antigas. Foi, pois, para conseguir que os seus alunos melhor decorassem  os princípios fundamentais de tais ensinamentos, que criou um baralho com vinte e duas cartas especiais. Erroneamente viria a ser conhecido como o «tarot de Marselha», porque foi nesse porto francês, que ganhou particular destaque nos séculos XVIII e XIX.
A incrível história deste jogo pedagógico não se fica por ai. Ficino lançou o desafio a vários artistas seus conhecidos para que desenhassem as vinte e duas cartas. Foi assim que Sandro Botticelli se encarregou da carta relativa à Temperança, que quase é idêntica a um fresco do pintor descoberta recentemente nas caves de um castelo húngaro.
Mas também o Diabo tem semelhanças impressionantes com outra obra de Botticelli: um desenho  ilustrativo de Lucifer no centro do «Inferno» de Dante.
Quanto à carta do Mundo quase parece cópia de uma outra encontrada num poço do castelo dos Sforza, uma das famílias mais prestigiadas desse período renascentista.
 Alguns dos grandes mitos platônicos, como o do carro alado ou a da alegoria da caverna também integram o baralho, a par das referências aos planetas, à justiça divina  ou à violência masculina.
À medida que a investigação de Philippe Truffault  e Christophe Poncet avança, mais sentido faz a tese que pretendem defender: a da natureza pedagógica do tarot de Marselha enquanto instrumento de divulgação do conhecimento dos filósofos gregos com a arte da Renascença.
Fazem-no com um ritmo de filme policial, que integra as pequenas estórias capazes de darem substância à História, e recorrendo às bibliotecas, os museus, aos castelos e igrejas onde se exibem os mais interessantes tesouros artísticos  desse período.
Em pouco mais de cinquenta minutos somos convidados a mergulhar numa idade do ouro do pensamento espiritual e artístico. Mas que nada tem de transcendente: apenas é algo que integra a História da Arte e da Filosofia renascentista...


 Fonte pesquisda: http://temposinteressantes.blogspot.com.br/2015/02/diario-das-imagens-em-movimento-os_19.html

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