Entramos numa loja que vende baralhos de Tarô.Talvez haja uma ou duas dúzias deles para se escolher.Qual Tarô escolher?
Primeiro vamos considerar o que constitui um Tarô verdadeiro, comparando alguns dos baralhos contemporâneos que lembram o Tarô tradicional, como Voyager, Motherpeace e o Xultun.O baralho Motherpeace apresenta cartas redondas e imagens relacionadas ao ritual e folclore, evocando em especial a adoração a Deusa.O baralho Voyager usa fotomontagens para criar outras impressões extramundanas de grandes estruturas arquetípicas; e as cartas do Xultun são cheias de hieróglifos maias.Vinte cartas do Xultun receberam o nome dos meses do calendário maia; os Arcanos Menores do Voyager trocam espadas por cristais, Pentáculos por Mundos e as figuras da corte por figura do Sábio, Criança, Mulher e Homem.
Estas são algumas das divergências das muitas divergências que certos baralhos contemporâneos de "Tarô" apresentam face aos modelos convencionais. As imagens dessas cartas são interpretações criativas dos "conceitos" do Tarô, não representação das imagens essenciais do Tarô; os nomes e até os formatos das cartas podem ser diferentes, o conteúdo das imagens pode não ter a menor relação com os temas tradicionais do Tarô e o baralho pode ter a sua propria estrutura divinatória distinta.Esses baralhos alternativos podem ser muito interessantes, misteriosos, instigantes e contemporâneos - mas ao mesmo tempo não tem o peso da longa tradição do Tarô atrás de si. Estão separados de boa parte daquilo que se já pensou ou se escreveu sobre o Tarô, uma vez que a maioria dos comentários sobre o Tarô concentram-se em discorrer de suas " imagens centrais": Imperador e Imperatriz, Roda da Fortuna, Moedas, Pajens e assim por diante.Sem essas imagens centrais, pode ser uma carta de Tarô ser realmente uma carta de Tarô?


Na minha opinião, não. Algo fundamentalmente importante numa carta de Tarô muda quando há uma mudança nas imagens, e chega-se a um ponto em que o grau de mudança é tão grande que algo novo é criado. Por exemplo a Imperatriz ser vista em alguns baralhos como a Super- Mulher montada num cavalo cheia de jóias o que significa uma alteração significativa na mensagem da carta, mas também um enorme distanciamento do lugar que ela ocupa históricamente na estrutura do Tarô. As dimensões extras de significados que foram acrescentados a iconografia da carta acabam efetivamente perdidas.


O termo Tarô é melhor usado quando confinado àqueles baralhos que preservam as imagens centrais das cartas.Um fator de continuidade é vital, não sómente para os estudiosos da teoria e história do Tarô, mas certamente também para aqueles ocupados com a divinação, pois o motivo pelo qual se deu tanta importância ao Tarô é que as imagens centrais possuem uma ressonância imaginativa excepcionalmente forte - e assim servem particularmente bem como "evocadores" no processo de divinação.


As imagens centrais são parte do Tarô como uma estrutura mental, enquanto sua representações são parte do Tarô como um sitema físico que evoca as imagens mentais.Logo , a maneira pela qual as imagens são representadas não altera o significado das imagens.Mas o estilo visual continua sendo muito importante, uma vez que diferentes maneiras de representar uma imagem tem diferentes efeitos psicológicos.


Cynthia Giles : O Tarô : Uma História Crítica: dos primórdios Medievais a Experiência Quântica.

Comentários

Postagens mais visitadas